Creio no Espírito Santo. Creio na Santa Igreja Católica


1. Creio no Espírito Santo 1.1. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade
Na Sagrada Escritura, o Espírito Santo é designado por diversos nomes: Dom, Senhor, Espírito de Deus, Espírito de Verdade e Paráclito, entre outros. Cada uma dessas expressões indica algo da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É “Dom" porque o Pai e o Filho no-lo enviam gratuitamente: o Espírito veio habitar em nossos corações (cfr. Gl 4, 6); Ele veio para ficar sempre com os homens. Além disso, d'Ele procedem todas as graças e dons, o maior dos quais é a vida eterna, junto com as outras Pessoas divinas: n´Ele temos acesso ao Pai, pelo Filho.
O Espírito é “Senhor" e “Espírito de Deus", que na Sagrada Escritura são nomes atribuídos somente a Deus, porque é Deus com o Pai e o Filho. É “Espírito de Verdade" porque nos ensina de modo completo tudo o que Cristo nos revelou, e guia e mantém a Igreja na verdade (cfr. Jo 15, 26; 16, 13-14). Ele é o outro Paráclito (Consolador, Advogado) prometido por Cristo, que é o primeiro Paráclito (o texto grego fala de “outro" Paráclito e não de um paráclito “distinto" para enfatizar a comunhão e continuidade entre Cristo e o Espírito).
No Símbolo Niceno-Constantinopolitano rezamos «Et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem: qui ex Patre [Filioque] procedit. Qui cum Patre et Filio simul adoratur, et conglorificatur: qui locutus est per Prophetas». Nesta frase os Padres do Concílio de Constantinopla (381) quiseram utilizar algumas das expressões bíblicas que eram usadas para designar o Espírito. Ao dizer que é “dador de vida" referiam-se ao dom da vida divina dado ao homem. Por ser Senhor e dador de vida, é Deus com o Pai e o Filho e recebe a mesma adoração que as outras duas Pessoas divinas. Ao final, também quiseram assinalar a missão que o Espírito realiza entre os homens: falou pelos profetas. Os profetas são aqueles que falaram em nome de Deus, movidos pelo Espírito, para levar seu povo à conversão. A obra reveladora do Espírito nas profecias do Antigo Testamento encontra sua plenitude no mistério de Jesus Cristo, a Palavra definitiva de Deus.
“São numerosos os símbolos com os quais se representa o Espírito Santo: a água viva, que brota do coração transpassado de Cristo e sacia a sede dos batizados; a unção com o óleo, que é sinal sacramental da Confirmação; o fogo, que transforma tudo o que toca; a nuvem escura e luminosa, na qual se revela a glória divina; a imposição das mãos, pela qual se nos dá o Espírito; e a pomba, que desce sobre Cristo em seu Batismo e permanece nEle" (Compêndio, 139).
1.2. A Missão do Espírito Santo
A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade coopera com o Pai e o Filho desde o início do desígnio de nossa salvação até sua consumação; mas nos “últimos tempos" – inaugurados com a Encarnação redentora do Filho – o Espírito se revelou e nos foi dado, foi reconhecido e acolhido como Pessoa (cfr. Catecismo, 686). Por obra do Espírito, o Filho de Deus se fez carne nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. O Espírito o ungiu desde o início; por isso, Jesus Cristo é o Messias desde o início de sua humanidade, isto é, desde sua própria Encarnação (cfr. Lc 1, 35). Jesus Cristo revela o Espírito com seus ensinamentos, cumprindo a promessa feita aos Patriarcas (cfr. Lc 4, 18 s), e o comunica à Igreja nascente, exalando o seu alento sobre os Apóstolos, depois de sua Ressurreição (cfr. Compêndio, 143). No dia de Pentecostes, o Espírito foi enviado para permanecer desde então na Igreja, Corpo místico de Cristo, vivificando-a e guiando-a com seus dons e com a sua presença. Por isso se diz também que a Igreja é Templo do Espírito Santo, e que o Espírito Santo é como a alma da Igreja.
No dia de Pentecostes o Espírito desceu sobre os Apóstolos e os primeiros discípulos, mostrando com sinais externos a vivificação da Igreja fundada por Cristo. “A missão de Cristo e do Espírito se converte na missão da Igreja, enviada para anunciar e difundir o mistério da comunhão trinitária" (Compêndio, 144). O Espírito faz o mundo entrar nos “últimos tempos", no tempo da Igreja.
A animação da Igreja pelo Espírito Santo garante que se aprofunde, que se conserve sempre vivo e sem perda, tudo o que Cristo disse e ensinou nos dias em que viveu na terra, até sua Ascensão [1]; além disso, pela celebração-administração dos sacramentos, o Espírito santifica a Igreja e os fiéis, fazendo com que ela continue sempre a levar as almas a Deus [2].
“A missão do Filho e a do Espírito Santo são inseparáveis porque na Trindade indivisível, o Filho e o Espírito são distintos, mas inseparáveis. Com efeito, desde o princípio até o fim dos tempos, quando Deus envia seu Filho, envia também seu Espírito, que nos une a Cristo na fé, a fim de que possamos, como filhos adotivos, chamar a Deus de 'Pai' (Rm 8, 15). O Espírito é invisível, mas nós o conhecemos por meio de sua ação, quando nos revela o Verbo e quando atua na Igreja" (Compêndio, 137).
1.3. Como atuam Cristo e o Espírito Santo na Igreja?
Por meio dos sacramentos, Cristo comunica seu Espírito aos membros de seu Corpo, e lhes oferece a graça de Deus, que dá frutos de vida nova, segundo o Espírito. O Espírito Santo também atua concedendo graças especiais a alguns cristãos para o bem de toda a Igreja, e é o Mestre que relembra a todos os cristãos aquilo que Cristo revelou (Cfr. Jo 14, 25 ss).
“O Espírito Santo edifica, anima e santifica a Igreja; como Espírito de Amor, devolve aos batizados a semelhança divina, perdida com o pecado, e os faz viver em Cristo a própria vida da Santíssima Trindade. Envia-os a dar testemunho da Verdade de Cristo e organiza-os em suas respectivas funções, para que todos deem 'o fruto do Espírito' (Gl 5, 22)" (Compêndio, 145).
2. Creio na Santa Igreja Católica 2.1. A revelação da Igreja
A Igreja é um mistério (cfr., por ex., Rm 16, 25-27), quer dizer, uma realidade na qual entram em contato e comunhão Deus e os homens. Igreja vem do grego “ekklesia", que significa assembleia dos convocados. No Antigo Testamento, foi utilizada para traduzir “quahal Yahweh", ou assembleia reunida por Deus para honrá-lo com o culto devido. São exemplos disso a assembleia sinaítica, e a que se reuniu em tempos do rei Josias, com o fim de louvar a Deus e voltar à pureza da Lei (reforma). No Novo Testamento existem várias significações, em continuidade com o Antigo, mas designa especialmente o povo que Deus convoca e reúne desde os confins da terra para constituir a assembleia de todos aqueles que, pela fé em sua Palavra e pelo Batismo, são filhos de Deus, membros de Cristo e templo do Espírito Santo (cfr. Catecismo, 777; Compêndio, 147).
Na Sagrada Escritura a Igreja recebe diversos nomes, cada um dos quais sublinha especialmente alguns aspectos do mistério da comunhão de Deus com os homens. “Povo de Deus" é um nome que Israel recebeu. Quando se aplica à Igreja, novo Israel, quer dizer que Deus não quis salvar os homens isoladamente, mas constituindo-os em um único povo, reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que o conhecesse na verdade e o servisse santamente [3]. Significa, também, que ela foi escolhida por Deus, que é uma comunidade visível que está a caminho – entre as nações – até sua pátria definitiva. Nesse povo, todos possuem a comum dignidade dos filhos de Deus, uma missão comum, ser sal da terra, e um fim comum, que é o Reino de Deus. Todos participam das três funções de Cristo, real, profética e sacerdotal (cfr. Catecismo, 782-786).
Quando dizemos que a Igreja é o “corpo de Cristo", queremos sublinhar que, através do envio do Espírito Santo, Cristo une os fiéis intimamente consigo, principalmente na Eucaristia, incorpora-os na sua Pessoa, pelo Espírito Santo, mantendo-se e crescendo unidos entre si na caridade, formando um só corpo na diversidade dos membros e funções. Indica-se também que a saúde ou a doença de um membro repercute em todo o corpo (cfr. 1 Cor 12, 1-24), e que os fiéis, como membros de Cristo, são seus instrumentos para atuar no mundo (cfr. Catecismo, 787-795). A Igreja é também chamada de “Esposa de Cristo" (cfr. Ef 5, 26 ss), o que enfatiza, dentro da união, que a Igreja mantém com Cristo, a distinção de ambos os sujeitos. Assinala, também, que a Aliança de Deus com os homens é definitiva porque Deus é fiel a suas promessas, e que a Igreja lhe corresponde, da mesma forma, fielmente, sendo Mãe fecunda de todos os filhos de Deus.
A Igreja é também o “templo do Espírito Santo", porque Ele vive no corpo da Igreja e a edifica na caridade, com a Palavra de Deus, com os sacramentos, com as virtudes e os carismas [4]. Como o verdadeiro templo do Espírito Santo foi Cristo (cfr. Jo 2, 19-22), esta imagem também enfatiza que cada cristão é Igreja e templo do Espírito Santo. Os carismas são dons que o Espírito concede a cada pessoa para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e, particularmente, para a edificação da Igreja. Aos pastores compete discernir e avaliar os carismas (cfr. Ts 5, 20-22; Compêndio, 160).
“A Igreja tem sua origem e realização no desígnio eterno de Deus. Foi preparada na Antiga Aliança com a eleição de Israel, sinal da futura reunião de todas as nações. Fundada pelas palavras e ações de Jesus Cristo, foi formada sobre tudo mediante sua Morte redentora e sua Ressurreição. Mais tarde, manifestou-se como mistério de salvação mediante a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Ao final dos tempos, alcançará sua consumação como assembleia celestial de todos os redimidos" (Compêndio, 149; cf. Catecismo, 778).
Quando Deus revela seu desígnio de salvação, que é permanente, manifesta também a forma como deseja realizá-lo. Esse desígnio não o terminou com um único ato, mas foi primeiro preparando a humanidade para acolher a Salvação; somente mais adiante revelou-o plenamente em Cristo. Esse oferecimento de Salvação na comunhão divina e na unidade da humanidade foi definitivamente outorgado aos homens através do dom do Espírito Santo que foi derramado nos corações dos crentes, colocando-os em contato pessoal e permanente com Cristo. Sendo filhos de Deus em Cristo, nos reconhecemos irmãos dos demais filhos de Deus. Não há uma fraternidade ou unidade do gênero humano que não se baseie na comum filiação divina que nos foi oferecida pelo Pai em Cristo; não há uma fraternidade sem um Pai comum, ao qual chegamos pelo Espírito Santo.
A Igreja não foi fundada pelos homens; nem mesmo é uma resposta humana nobre a uma experiência de salvação realizada por Deus em Cristo. Nos mistérios da vida de Cristo, o ungido pelo Espírito, cumpriram-se as promessas anunciadas na Lei e nos profetas. Pode-se dizer também que a ação da Igreja coincide com a vida de Jesus Cristo; a Igreja vai tomando forma em relação à missão de Cristo entre os homens, e para os homens. Não há um momento único em que Cristo tenha fundado a Igreja, pois a fundou em toda sua vida: desde a encarnação até sua morte, ressurreição, ascensão e com o envio do Paráclito. Ao longo de sua vida, Cristo – em quem habita o Espírito – foi manifestando como devia ser sua Igreja, dispondo as coisas, umas após outras. Depois de sua Ascensão, o Espírito foi enviado à Igreja e nela permanece, unindo-a à missão de Cristo, recordando-lhe aquilo que o Senhor revelou, guiando-a ao longo da história, até sua plenitude. Ele é a causa da presença de Cristo em sua Igreja, pelos sacramentos e pela Palavra, e a adorna continuamente com diversos dons hierárquicos e carismáticos [5]. Por sua presença cumpre-se a promessa do Senhor de estar sempre com os seus até o fim dos tempos (cfr Mt 28,20).
O Concílio Vaticano II retomou uma antiga expressão para designar a Igreja: “comunhão". Com ela se indica que a Igreja é a expansão da comunhão íntima da Santíssima Trindade com os homens; e que nesta terra já é comunhão com a Trindade divina, embora não se tenha consumado ainda em sua plenitude. Além de comunhão, a Igreja é sinal e instrumento dessa comunhão, para todos os homens. Por ela participamos da vida íntima de Deus e pertencemos à família de Deus, como filhos, no Filho, pelo Espírito [6]. Isto se realiza de forma específica nos sacramentos, principalmente na Eucaristia, também chamada muitas vezes comunhão (cfr. 1 Cl 10, 16). Por último, chama-se também comunhão porque a Igreja configura e determina o espaço da oração cristã (cfr. Catecismo, 2655, 2672, 2790).
2.2. A Missão da Igreja
A Igreja deve anunciar e instaurar, entre todos os povos, o Reino de Deus inaugurado por Cristo. Na terra, é o germe e início deste Reino. Depois de sua Ressurreição, o Senhor enviou os Apóstolos a pregar o Evangelho, a batizar e a ensinar a cumprir o que Ele havia mandado (Cfr. Mt 28, 18ss). O Senhor entregou à sua Igreja a mesma missão que o Pai lhe havia confiado (cfr. Jo 20, 21). Desde o início da Igreja esta missão foi realizada por todos os cristãos (cfr At 8, 4; 11,19), que muitas vezes chegaram ao sacrifício da própria vida, para cumpri-la.
O mandato missionário do Senhor tem sua fonte no amor eterno de Deus, que enviou seu Filho e seu Espírito porque “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2, 4).
Nesse envio missionário estão contidas as três funções da Igreja na terra: o munus profeticum (anunciar a boa notícia da salvação em Cristo), o munus sacerdotale (tornar efetivamente presente e transmitir a vida de Cristo que salva pelos sacramentos) e o munus regale (ajudar os cristãos a cumprir a missão e a crescer em santidade). Ainda que todos os fiéis compartilhem a mesma missão, nem todos desempenham o mesmo papel. Alguns deles foram escolhidos pelo Senhor para exercer determinadas funções, como os Apóstolos e seus sucessores, que são conformados pelos sacramentos da ordem com Cristo, cabeça da Igreja, de uma forma específica, distinta dos demais.
Porque a Igreja recebeu de Deus uma missão salvífica na terra, a favor dos homens, e foi disposta por Deus para realizá-la, diz-se que a Igreja é o sacramento universal de Salvação, pois tem como fim a glória de Deus e a salvação dos homens (cfr. Catecismo, 775). É sacramento universal de salvação porque é sinal e instrumento da reconciliação e da comunhão da humanidade com Deus, e da unidade de todo o gênero humano [7]. Diz-se também que a Igreja é um mistério porque em sua realidade visível faz-se presente e atua uma realidade espiritual e divina que só se percebe mediante a fé.
A afirmação “fora da Igreja não há salvação" significa que toda salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é seu corpo. Ninguém pode salvar-se se, tendo reconhecido que foi fundada por Cristo para a salvação dos homens, a rechaça ou não persevera. Ao mesmo tempo, graças a Cristo e a sua Igreja, podem alcançar a salvação eterna todos aqueles que, sem culpa alguma, ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam sinceramente a Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam em cumprir sua vontade, conhecida mediante o ditame da consciência. Tudo quanto de bom e verdadeiro se encontra nas outras religiões vem de Deus, pode preparar para a acolhida do Evangelho e conduzir à unidade da humanidade na Igreja de Cristo (cfr. Compêndio, 170 e ss).
2.3. As propriedades da Igreja: uma, santa, católica, apostólica
Chamamos propriedades àqueles elementos que caracterizam a Igreja. Eles são encontrados em muitos dos Símbolos da fé desde épocas muito antigas da Igreja. Todas as propriedades são um dom de Deus que implica numa tarefa a ser cumprida por parte dos cristãos.
A Igreja é Una porque sua origem e modelo é a Santíssima Trindade; porque Cristo – seu fundador – restabelece a unidade de todos em um só corpo; porque o Espírito Santo une os fiéis com a Cabeça, que é Cristo. Esta unidade se manifesta em que os fiéis professam uma mesma fé, celebram os mesmos sacramentos, estão unidos a uma mesma hierarquia, têm uma esperança comum e a mesma caridade. A Igreja subsiste, como sociedade constituída e organizada no mundo, na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele [8]. Somente nela se pode obter a plenitude dos meios de salvação posto que o Senhor confiou os bens da Nova Aliança ao Colégio apostólico, cuja cabeça é Pedro. Nas igrejas e comunidades cristãs não-católicas há muitos bens de santificação e de verdade que procedem de Cristo e impulsionam à unidade católica; o Espírito Santo serve-se delas como instrumento de salvação, já que sua força provém da plenitude de graça e verdade que Cristo deu à Igreja católica (cfr. Catecismo, 819). Os membros dessas igrejas e comunidades se incorporam a Cristo no Batismo e por isso os reconhecemos como irmãos. Pode-se crescer na unidade: aproximando-nos mais de Cristo e ajudando aos demais cristãos a estarem mais próximos d'Ele; fomentando a unidade no essencial, a liberdade no acidental e a caridade em tudo [9]; tornando a casa de Deus mais habitável para os demais; crescendo em veneração e respeito pelo Papa e pela hierarquia, ajudando-os e seguindo seus ensinamentos.
O movimento ecumênico é uma tarefa da Igreja pela qual se procura restaurar a unidade entre os cristãos na única Igreja fundada por Cristo. É um desejo do Senhor (cfr. Jo 17, 21). Realiza-se com a oração, com a conversão do coração, o recíproco conhecimento fraterno e o diálogo teológico.
A Igreja é Santa porque Deus é seu autor, porque Cristo se entregou por ela para santificá-la e fazê-la santificante, porque o Espírito Santo a vivifica com a caridade. Por ter a plenitude dos meios salvíficos, a santidade é a vocação de cada um de seus membros e o fim de toda sua atividade. É Santa porque dá constantemente frutos de santidade na terra, porque sua santidade é fonte de santificação de seus filhos – ainda que nesta terra todos se reconheçam pecadores e necessitados de conversão e purificação. A Igreja também é santa devido à santidade alcançada por seus membros que já estão no Céu, de modo eminente a Santíssima Virgem Maria, que são seus modelos e intercessores (cfr. Catecismo, 823-829). A Igreja pode ser mais santa, através da tarefa de santidade realizada por seus fiéis: a conversão pessoal, a luta ascética para parecer-se mais a Cristo, a transformação que ajuda a cumprir melhor a missão e a fugir da rotina, a purificação da memória que remove os falsos preconceitos sobre os demais, e o cumprimento concreto da vontade de Deus na caridade.
A Igreja é Católica – quer dizer universal – porque nela está Cristo, porque conserva e administra todos os meios de salvação dados por Cristo, porque sua missão abarca a todo o gênero humano, porque recebeu e transmite em sua integridade todo o tesouro da Salvação e porque tem a capacidade de inculturar-se, elevando e melhorando qualquer cultura. A catolicidade cresce extensiva e intensivamente através de um maior desenvolvimento da missão da Igreja. Toda igreja particular, isto é, toda parcela do povo de Deus que está em comunhão na fé, nos sacramentos, com seu bispo – através da sucessão apostólica - , formada à imagem da Igreja universal e em comunhão com toda a Igreja (que a precede, ontológica e cronologicamente) é católica.
Como sua missão abarca toda a humanidade, cada homem, de diversos modos, pertence ou pelo menos está ordenado à unidade católica do Povo de Deus. Está plenamente incorporado à Igreja quem, possuindo o Espírito de Cristo, encontra-se unido pelos vínculos da profissão de fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão. Os católicos que não perseverem na caridade, ainda que incorporados à Igreja, lhe pertencem corporalmente, mas não com o coração. Os batizados que não realizam plenamente a referida unidade católica estão em certa comunhão, mesmo que imperfeita, com a Igreja católica (cfr. Compêndio, 168).
A Igreja é Apostólica porque Cristo edificou-a sobre os apóstolos, testemunhas escolhidas de sua Ressurreição e fundamento de sua Igreja; porque com a assistência do Espírito Santo, ensina, guarda e transmite fielmente o depósito da fé recebido dos Apóstolos. É também apostólica por sua estrutura, enquanto é instruída, santificada e governada, até a volta de Cristo, pelos Apóstolos e seus sucessores, os bispos, em comunhão com o sucessor de Pedro. A sucessão apostólica é a transmissão, mediante o sacramento da Ordem, da missão e da potestade dos Apóstolos aos seus sucessores. Graças a esta transmissão, a Igreja se mantém em comunhão de fé e de vida com sua origem, enquanto ao longo dos séculos ordena sua missão apostólica à difusão do Reino de Cristo sobre a terra. Todos os membros da Igreja participam, segundo as diferentes funções, da missão recebida pelos Apóstolos de levar o Evangelho ao mundo inteiro. A vocação cristã é, por sua própria natureza, vocação ao apostolado (cfr. Catecismo, 863).
Miguel de Salis Amaral Bibliografía
Sobre o Espírito Santo
Catecismo da Igreja Católica, 683-688; 731-741.
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 136-146.
João Paulo II, Enc. Dominum et vivificantem, 18-05-1986, 3-26.
João Paulo II, Catequesis sobre el Espíritu Santo, VIII-XII.1989.
São Josemaria, Homilia O Grande Desconhecido, em É Cristo que passa, 127-138.
Leituras recomendadas Catecismo da Igreja católica, 748-945Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 147-193.
São Josemaria, Homilía Lealdade à Igreja (4-06-1972), em Amar a Igreja, Prumo-Rei dos Livros, Lisboa, 1990. nn 1-16.
[1] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 8.
[2] “A vinda solene do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado. Mal se encontra uma página dos Atos dos Apóstolos na qual não se fale d'Ele e da ação pela qual guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã [...]. Essa realidade profunda que nos dá a conhecer o texto da Sagrada Escritura, não é uma recordação do passado, uma idade de ouro da Igreja que ficou para trás na história. É, acima das misérias e dos pecados de cada um de nós, a realidade, também da Igreja de hoje e da Igreja de todos os tempos" (São Josemaria, É Cristo que passa, 127 e ss).
[3] Cfr. Concílio Vaticano II, Lúmen Gentium, 4 e 9; São Cipriano, De Orat Dom, 23 (CSEL 3, 285).
[4] “Quando invocares, pois, a Deus Pai, lembra-te de que foi o Espírito Santo quem, ao mover tua alma, inspirou-te essa oração. Se não existisse o Espírito Santo, não haveria na Igreja palavra alguma de sabedoria ou de ciência, porque está escrito: é dada pelo Espírito a palavra de sabedoria (I Cor XII, 8)... Se o Espírito Santo não estivesse presente, a Igreja não existiria. Mas, se a Igreja existe, é certo que o Espírito Santo não falta" (São João Crisóstomo, Sermones panegyrici in solemnitates D. N. Iesu Christi, hom. 1, De Sancta Pentecostes, n. 3-4, PG 50, 457).
[5] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 4 e 12.
[6] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et spes, 22.
[7] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 1.
[8] Cfr. Ibidem, 8.
[9] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et spes, 92.